9 de junho de 2018

"Por que celebrar o Dia Internacional dos Arquivos?" Por Natália Bolfarini Tognoli

Arquivos não são simples depósitos de documentos velhos


Dia 9 de junho é comemorado o Dia Internacional dos Arquivos. A data, instituída pelo Conselho Internacional de Arquivos (CIA) em 2007, remonta à criação do Conselho pela Unesco em 1948, na referida data. Desde então, as instituições ligadas aos documentos de arquivo (Associações profissionais, cursos de Graduação, Arquivos Públicos) escolheram o dia 9 de junho para desenvolverem ações de promoção e divulgação da causa dos arquivos. Mas, por que celebrar esse dia? Melhor, por que celebrar os arquivos?

Os arquivos estão presentes na civilização desde a Antiguidade, quando eram tidos como verdadeiros arsenais de documentos para fins probatórios. Talvez daí nos venha a ideia de que os documentos de arquivo servem para provar. Essa utilidade do arquivo perpassou séculos, diferentes culturas e sociedades.

Na Idade Média, a ideia de recorrer aos arquivos para fins de gestão administrativa ganha fôlego com os Estados tomando para si a responsabilidade de preservação dos arquivos relativos à sua história administrativa e aos territórios conquistados. Os arquivos e, consequentemente, seus documentos estavam diretamente ligados a uma política de Estado. Para além de sua utilidade administrativa, funcionando como um instrumento de boa gestão, os arquivos constituíam, também, um instrumento de segurança.

Com a Revolução Francesa houve a abertura dos Arquivos Nacionais à pesquisa histórica. Neste contexto, o arquivo ganha uma terceira utilidade (além de provar direitos e deveres e atestar ações administrativas) que é a de conhecer e compreender o passado. Nesta perspectiva, os arquivos são considerados os testemunhos mais fiéis do passado e fonte de conhecimento para a sociedade, dando suporte às pesquisas históricas. Esse passado, vale dizer, não se limita ao passado de um Estado ou país. Arquivos de empresas e arquivos pessoais também são fonte de conhecimento.


O arquivo serve à administração pública, à administração privada, ao indivíduo, à comunidade

A partir do século XX, com as revoluções tecnológicas que propiciam novas formas de produção documental e novos usos das informações e/ou documentos de arquivo, uma quarta utilidade emerge: o arquivo enquanto construtor de identidade. Aqui, os arquivos e seus documentos são utilizados para contar a história de indivíduos, escolas, comunidades, contribuindo para a firmação do sujeito enquanto membro de uma determinada comunidade.

Todas essas utilidades do arquivo e de seus documentos talvez nos passem despercebidas. Não é raro encontrarmos no imaginário comum referências a documentos velhos, depósitos mofados, quartinhos do fundo. Até mesmo os profissionais que atuam nos arquivos são estereotipados (pessoas velhas, rabugentas, deprimidas e que odeiam o que fazem). A verdade é que os documentos de arquivo estão inseridos no nosso dia a dia de uma forma tão imbricada que não se pode conceber sociedade sem arquivo.

O dia deve ser celebrado porque o arquivo não é um simples depósito de documentos velhos. O arquivo é fonte de prova, construtor de identidade, guardião da memória, gestor de informações orgânicas. O arquivo serve à administração pública, à administração privada, ao indivíduo, à comunidade. O arquivo serve a todos.

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Natália Bolfarini Tognoli é professora assistente doutora no curso de Arquivologia do Departamento de Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp, Câmpus de Marília. (Edição 76 julho 1, 2016)

Créditos: UNESP CIÊNCIA

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